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1 19/02/2019 19:03

Agem com muita sabedoria os prefeitos que suspenderam a realização do Carnaval em seus municípios, para que esses recursos possam ser utilizados nos chamados serviços essenciais, a exemplo da saúde, educação. E atitudes como essa, partindo de Itabuna, um centro irradiador da região cacaueira, certamente será seguido por outros prefeitos conscientes da péssima situação por que passam os entes públicos.

Temos que levar em consideração que o Carnaval é uma festa que arrasta multidões da própria cidade e dos municípios vizinhos para os festejos momescos, cuja duração é de no mínimo três dias. E hajam recursos para investimentos (ou gastos?) com a infraestrutura e bandas famosas (nem sempre), que celebram contratos altíssimos parar se apresentar com todas as mordomias.

Cidades turísticas defendem a realização do Carnaval sob o argumento de que precisam atrair mais visitantes para aquecer a economia e apresentam contas mirabolantes com as aquisições de hospedagem, alimentação, passeios e bebidas. É uma matemática empírica e que coloca todos carnavalescos no mesmo patamar econômico, o que não é verdade e nem ajuda o comércio local.

Nas cidades praianas é certo que a economia é alavancada pelos visitantes, veranistas que vêm a descanso ou os carnavalescos em busca de atrações contratadas a peso de ouro. Não podemos excluir da conta os próprios moradores e de cidades vizinhas, que chegam com o dinheiro contado do transporte, uns dois churrasquinhos de gato e mais duas ou três doses de “capeta”, e acaba de “fazer a cabeça” com a “meota” que trouxe de casa.

Não tenho dados para calcular o custo-benefício das milionárias contratações com as vendas efetivadas pelo comércio local e quanto de tributo foi revertido para o erário do município. Mas não precisamos quebrar muito a cabeça para nos certificar que as despesas dos cofres públicos vão muito além das contratações das atrações musicais e se valem a pena em termos econômicos e financeiros.

Sim, porque essa conta não é feita por simples aritmética, contas de somar e diminuir, mas, sobretudo, pelo aspecto social, diante de centenas ou milhares de pessoas carentes e dependentes dos programas e serviços públicos. A assistência social, a educação, a saúde e a infraestrutura, que nem sempre dispõem de recursos suficientes para o atendimento à população agradeceriam esse importante apoio.

Mas o principal fator garantidor da realização das festas carnavalescas não são a economia e sim a política, com as ações que deixariam parte da população feliz e satisfeita com a festa momesca. Neste caso, é preciso que o prefeito tenha determinação para cancelar ou mesmo reduzir a quantidade de recursos destinados à folia e muita firmeza para explicar ao povo sua atitude.

Lembro-me bem que em anos passados o Carnaval era bancado pela iniciativa privada, com a contratação de trios elétricos e bandas para anunciar os seus produtos, patrocinando um bloco, cordão carnavalesco ou afoxé. À prefeitura cabia apenas a organização dos festejos com a infraestrutura (palanque, isolamento da avenida, dentre outras pequenas despesas).

Em Itabuna, por exemplo, o prefeito Simão Fiterman, que administrou Itabuna no período de 1971 a 1973, cancelou a realização do Carnaval, sendo bastante criticado por essa medida impopular. Mesmo assim, os foliões saíram às ruas com seus blocos e brincaram durante todo o período, embora não tenha sido admitidos os cartazes com críticas mais ácidas ao prefeito, por estarmos vivendo o período da chamada revolução.

E este não é o primeiro ano que o prefeito Fernando Gomes cancela a realização do Carnaval de Itabuna. Aliás, também inovou criando o Carnaval antecipado, com a finalidade de contratar atrações por valores menores do que no período em que todos festejam Momo, sendo seguido por um sem número de prefeitos, embora tenha sofrido críticas à época.

Gosto de Carnaval, nem tanto no padrão dos que são realizados hoje, por preferir brincar com mais tranquilidade, na rua ou nos clubes, como antigamente. Quem quiser que me chame de saudosista. Sou mesmo. Mas não me sentirei frustrado ou depressivo caso o poder público resolva aplicar os recursos em áreas distintas, por entender que poderei passar perfeitamente sem essa festa.

Um bom exemplo também vem de Itabuna, com a promoção da Lavagem do Beco do Fuxico (o meu beco), no qual a prefeitura faz investimentos mínimos e todos continuam brincando nos seus blocos. Essa ação, por si só foi responsável pela criação de inúmeras lavagens de becos e botequins famosos, com custo zero para o erário. Basta uma charanga, quando muito, para que os foliões se esbaldem. Mas não esqueçam dos tira-gostos, necessários para manter o estômago cheio, do contrário a bebida fará mal.

* Radialista, jornalista e advogado


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 Penso Assim - por Walmir Rosário 






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